sábado, 25 de novembro de 2017

Francisco Ricardo: uma tragédia esquecida

Em 1927, um duelo teve lugar na cidade de Santa Maria. Já era noite quando o comerciante Pedro da Silva Beltrão passou em casa para pegar o sobretudo e não encontrou a esposa, Rosa, que teria saído para comprar aviamentos. Surpreso, viu que, na mesma direção, também descia a avenida o poeta e juiz distrital Francisco Ricardo, que andara dirigindo gracejos a Rosa, e decidiu segui-lo. Mais à frente, viu Rosa e viu ainda que Francisco Ricardo a ultrapassava e depois dobrava à esquerda numa rua escura, seguido por ela. Pedro foi atrás e os surpreendeu conversando. Chocado, bradou um insulto ao juiz, já de revólver na mão. O poeta então sacou seu 38. Apenas Rosa sobreviveu.

Este é o fim trágico de uma morte anunciada. Aos 33 anos, Francisco Ricardo já havia sido transferido duas vezes por se envolver com mulheres casadas. O escritor Sergio Faraco e o pesquisador Valter Antonio Noal Filho reconstituem essa tragédia em minúcias, contextualizando a vida do poeta desde o nascimento, em Porto Alegre, até o desventurado epílogo. O acontecimento, que estremeceu Santa Maria, o Rio Grande do Sul e teve repercussão na imprensa do centro do país, está fartamente fundamentado com a cobertura jornalística da época e com a transcrição de documentos oficiais.

A segunda metade do volume é dedicada à produção poética de Francisco Ricardo. Como não poderia ser diferente, grande parte de sua escrita é dedicada ao amor romântico, ao concretizado e ao idealizado, e às saudades que sentiu de sua terra e de sua mãe quando foi estudar no Rio de Janeiro. Tendo publicado apenas um livro em vida, deixou dois inéditos, sendo esta uma oportunidade única de entrar em contato com sua poesia empolgada por ímpetos amorosos.


Pesquisa
O escritor Sergio Faraco e o pesquisador Valter Antonio Noal Filho ficaram fascinados pela história de Francisco Ricardo (1893-1927), poeta e magistrado nascido em Santa Maria (RS) que precocemente aos 33 anos foi morto por um marido ciumento, assassinado por Ricardo a tiros no mesmo duelo, e resgatam aqui esse drama que teve ampla repercussão nacional.

O livro é construído da seguinte maneira: 
1ª: biografia. Os autores traçam uma completa linha do tempo, desde o nascimento de Francisco Ricardo até a tragédia, contada em minúcias. A partir da biografia é possível conhecer o protagonista a ponto de entender a personalidade que o levou para o trágico desfecho. 

2ª: cobertura jornalística. Inclui diversas reportagens e artigos de jornais locais e nacionais sobre a tragédia, além de uma seleção de documentos pessoais dos envolvidos. É possível traçar um paralelo entre a cobertura do caso à época e grandes coberturas de dramas contemporâneos, como o assassinato de Daniella Perez por seu colega Guilherme de Pádua e sua esposa, Paula Thomaz. 

3ª: poesia. Contempla a publicação de parte de sua obra poética, em sua maioria inédita, sendo esta uma oportunidade única de entrar em contato com versos que celebram o amor.

Inclui um caderno de fotos riquíssimo no qual é possível conhecer todos os envolvidos na tragédia (Francisco Ricardo, Pedro da Silva Beltrão e Rosa, sua esposa), onde eles moravam e trabalhavam, o trajeto percorrido pelos personagens no dia da tragédia, os médicos que se envolveram no socorro dos alvejados, entre outras curiosidades.

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