segunda-feira, 12 de junho de 2017

Jornalista lança livro de reflexão e referência para pais e educadores


Com os filhos pequenos à sua volta, Graça Ramos fazia a brincadeira das palavras para estimulá-los a construir um vocabulário rico. “Saía muito disparate”, ela se diverte ao lembrar. Ainda grávida, lia em voz alta para que os bebês em formação se acostumassem à entonação das palavras, às interjeições e às emoções das histórias narradas. Hoje, é a autora comprometida com a qualidade das obras para o público infantojuvenil que emerge das páginas de “Habitar a infância: como ler literatura infantil”, seu mais novo livro.

Jornalista, mestre em Literatura, doutora em História da Arte, ela reuniu todo o seu instrumental teórico e experiência pessoal para preparar uma obra que é pura declaração de amor à leitura e aos pequenos leitores. Publicado pela Tema Editorial, o livro reúne textos do blog que manteve por mais de um ano no site do jornal O Globo dedicado à literatura infantil e juvenil. Mais do que um guia para os chamados intermediários – aqueles que se colocam entre o livro e a criança – Graça buscou envolver os adultos no jogo de imaginação e sentidos proposto nas obras que abordou. 

Os 68 textos que assina não subestimam, em nenhum momento, a inteligência e a complexidade das crianças a que se destinam as obras analisadas. Sua linguagem coloquial e envolvente convida os leitores a visitarem temas variados, leves ou densos, que tanto podem ser sugestões de leitura para as férias da criançada como uma delicada incursão pelo tabu da morte. Cada artigo é pontuado por livros relacionados ao principal tema abordado, o que torna “Habitar a Infância” de uma riqueza bibliográfica singular. 

O cardápio é bem variado. São mais de 300 obras de literatura infantil organizadas nas referências bibliográficas completas que compõem a edição. O índice onomástico é outro recurso inserido no livro para facilitar a experiência dos pais e educadores em busca de autores que possam enriquecer e diversificar o universo infantil. “Quisemos oferecer orientação, sempre valorizando a inteligência do adulto e da criança”, explica Graça Ramos., que ilumina com seu olhar crítico e amoroso os textos literários que comenta. 


“Concentração e fruição” 

Na era da comunicação digital, o fascínio que as telas exercem sobre as crianças e jovens pode ser melhor equilibrado com o estímulo à leitura de livros impressos, um formato que se modernizou e também tem seus trunfos para atrair atenção. As imagens coloridas e inteligentes que costumam acompanhar as boas publicações de literatura infantil merecem atenção especial da autora, até por sua formação em História da Arte. No mundo conectado e dispersivo em que vivemos, a leitura é ato de “concentração e fruição”, observa a autora. 

Uma sugestão valiosa que ela apresenta aos adultos é que não imponham a leitura às crianças. De maneira diferente da educação formal nas escolas, o ambiente familiar deve ser estimulante para conquistar a adesão das crianças à leitura. Dispor livros nas prateleiras mais baixas das estantes para que os pequenos possam alcançá-los e se interessar pelas obras é também bom começo para uma jornada de descobertas. Aproximar o objeto-livro das crianças, desde bebês, é o caminho mais recomendado. 

Na visão de Graça Ramos, não se trata de induzir os pais a uma visão utilitarista da leitura, como se interessasse apenas formar futuros profissionais bem-sucedidos. O que ela quer mesmo é liberar o imaginário infantil, deixar que as mentes levantem voo graças a textos e imagens irresistíveis. Reconhecidas em toda sua complexidade existencial, as crianças podem encontrar na leitura caminhos para entender a diversidade do mundo e construir um repertório que lhes permita alcançar toda sua potencialidade como cidadãos. 

Os quatro capítulos que compõem o livro reservam um olhar atento também às políticas públicas voltadas para a educação do público infantojuvenil. Graça Ramos aponta a carência de bibliotecas especializadas nesse segmento e a ausência de espaços conhecidos como “bebetecas”, comuns em países desenvolvidos e destinados aos muito pequenos. A palestra que proferiu na Academia Brasileira de Letras sobre a nova crítica da literatura infantojuvenil é o fecho de um livro que representa um presente a todos que se interessam pela melhor formação das crianças brasileiras.

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