terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

A Menina Submersa: Memórias

de Caitín R. Kiernan (Editora Darkside Books)

Um livro dentro de um livro, e uma esquizofrênica tentando colocar em ordem seus pensamentos confusos, A Menina Submersa é uma obra de terror, com matizes de conto de fadas e história de amor. É um livro que não é facilmente definido, e que com certeza não se pode colocar em um molde pronto de narrativa feita para vender. E isso é muito revigorante, na atualidade.

India Morgan Phelps, ou Imp é nossa narradora, que vencendo as limitações de uma crescente doença mental tenta contar sua história. Ela não consegue estabelecer uma linha do tempo exata, nem ter certeza do que realmente aconteceu ou é fruto de sua imaginação, e com ela o leitor fica em dúvida entre o que é real e devaneio.

 
Além da sua história de sua família, em que sua mãe e sua avó cometeram suicídio por não saber lidar com a loucura presente em suas vida, Imp mostra várias histórias de sua vida, ligadas à pinturas, contos e recortes de jornais. De alguma maneira ela relaciona estas histórias e as separa em pastas que ficam no seu atelier de pintura, uma pasta para chapeuzinho vermelho, uma pasta para a obra do pintor Phillip George Saltonstall, uma pasta para a Dália Negra e assim em diante.

Imp conta toda a história de como conheceu sua namorada, Abalyn, e como foi a vida das duas juntas, e como ela estragou tudo isto quando conheceu Eva Caning, nua à beira de uma estrada e a levou para casa. Algo de muito estranho estava implícito em Eva, mas Imp simplesmente não conseguia desviar, e deixá-la.
 

As inúmeras referências que vão se juntando, são o complemento perfeito aos acontecimentos na vida de Imp, como o seu encontro com sereias e licantropos. A isso são somados os contos, poemas e pinturas que fazem parte da história e conseguem fazer sentido no meio da incoerência geral.
 
 
A narrativa de Kiernan não é linear, mas sua prosa é magnífica. Ela é bem sucedida em tirar o leitor de sua zona de conforto, e mostra uma personagem dolorosamente real, que precisa contar sua história para não enlouquecer, como sua mãe e avó fizeram antes dela.

Não é uma obra fácil de ler, mas com certeza vale a pena. Há momentos em que Imp não faz sentido nem para si mesma, e leva o leitor consigo neste turbilhão de pensamentos desgovernados, e é preciso focar na leitura para conseguir acompanhar e entender o que está acontecendo. Mas no fim, tudo vai fazendo sentido, e é possível compreender ao menos em certo nível o que se passa com Imp.
 
 
Somando-se a isto, a edição brasileira do livro ficou primorosa. Não é segredo para ninguém que todos os livros da Darkside são caprichados, e A Menina Submersa não é diferente. A capa já mostra toda a força desta narrativa e as páginas decoradas são a coisa mais linda que há. Um livro que vale a pena ler, e reler, uma história sem paralelos e com a força de um tapa no rosto, que a maioria dos leitores anda precisando.

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